Executivas se apoiam em maridos "donos de casa" - Folha de S.Paulo
 
26Feb

Executivas se apoiam em maridos "donos de casa" - Folha de S.Paulo

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Claudio Herique

 

A Folha de S.Paulo publicou no seu caderno de Empregos no final do ano passado uma matéria muito interessante sobre as executivas que precisam contar com o apoio dos maridos com os filhos e a casa para continuarem sendo bem sucedidas em suas carreiras profissionais.
 
A reportagem ilustra bem o que eu vejo como um dos maiores desafios do século XXI: como é possível ter uma vida pessoal equilibrada e, ao mesmo tempo, ser bem sucedido profissionalmente? Agindo sozinhos, homens e mulheres dificilmente atingirão esse objetivo. Isso é quase uma utopia dos “tempos modernos”. Mas um casal que tem objetivos comuns pode sim, através do entendimento e colaboração mútua, alcançar uma vida familiar harmoniosa.
 
Embora as empresas tenham buscado soluções como horários mais flexíveis ou “home offices”, em alguns mercados a única maneira de ser bem sucedido ainda é trabalhar longas horas enfrentando uma competição brutal. Essa exigência torna praticamente impossível que um casal possa ter duas carreiras. Nesse caso, mesmo que o casal possa contar com o suporte de uma babá ou uma empregada em tempo integral, alguém tem que abrir mão da carreira.
 
Quando a mulher faz isso, a sociedade encara de uma maneira mais normal. Quando é o homem que toma essa decisão, o choque é bem maior, principalmente quando ele assume que é um dono de casa. Mas é muito legal ver as pessoas quebrando esses paradigmas e encarando as coisas com naturalidade, como é o caso do casal que ilustra essa reportagem da Folha de S.Paulo, a qual reproduzo abaixo.
 
Boa leitura.
 
 

Executivas se apoiam em maridos "donos de casa" - Folha de S.Paulo, 29/12/2013

 
Quando Marielle Jan de Beur, executiva do banco Wells Fargo em Nova York, viajou a Hong Kong para persuadir investidores asiáticos a voltar ao mercado de títulos, o marido dela levou a filha para experimentar vestidos de debutante.
 
Ela faz parte de um grupo de mulheres que contam com um certo tipo de apoio que tem permitido que elas compitam com nova intensidade no mercado de trabalho: um marido que cuida da casa em tempo integral.
Em uma indústria ainda dominada por homens, essas executivas do setor financeiro fazem parte de um grupo pequeno, mas de crescimento rápido, que se beneficia do que chamam de ligação entre sua capacidade de atingir objetivos profissionais e a boa vontade dos maridos de lidar com tarefas domésticas.
 
Há 13 anos, quando Jan de Beur se casou, muitos dos seus colegas homens sugeriram que ela se tornaria inútil no trabalho. Mas se casar acabou se tornando uma das suas melhores decisões.
 
Marielle Jan de Beur, do Wells Fargo, trabalha enquanto o marido fica em casa com os filhos

 
Quando ela ficou grávida, o marido dela, Jim Langley, estava fazendo longas jornadas em um escritório de arquitetura que o estava pressionando a se mudar de cidade. E ele ganhava menos da metade do que ela. A solução parecia óbvia.
 
Se alguém pergunta a Langley o que ele faz, ele poderia dizer que é um artista, mas ele apenas começou a vender seus quadros. Outros pais na mesma situação dizem que geralmente contam mentirinhas: que estão aposentados, que são consultores, que trabalham em casa.
 
Langley geralmente diz que é um dono de casa. "É assim que eu me chamo", diz. "Eu não diria que eu gosto", completa. E que tipo de reação das outras pessoas ele recebe? "Geralmente é uma longa pausa."
"Nós somos quase um casal dos anos 1950 ao contrário", diz Drew Skinner, marido de Nicole Black, também executiva do Wells Fargo. "Eu fico em casa, lavo a louça e a roupa. Faço tudo o que uma dona de casa faz. A diferença é que eu sou um cara."
 
Muitas dessas executivas descobriram que, mesmo com babás e empregadas domésticas, as exigências de se trabalhar no setor financeiro tornavam impossível o casal ter duas carreiras.
 
Não está claro se esses casais são líderes que marcham rumo à igualdade entre gêneros ou exemplos de como pouca coisa está mudando em Wall Street.
 
Em vez de mudar a cultura dos bancos, que promovem políticas de horários flexíveis e equilíbrio com a vida pessoal, essas mulheres dizem que, para serem bem-sucedidas, elas precisam aderir ao jogo de forma muitas vezes brutal, como acordar às 4h45 e passar por dias de competição incessante.
 
Neste ano, quatro das principais executivas do banco JPMorgan Chase decidiram viajar pelos EUA para descobrir por que havia tão poucas mulheres no maior banco do país e no setor.
 
Nos encontros com 2.500 mulheres, as executivas ouviram as mesmas mensagens. A adoção de horários flexíveis, que permitem que funcionários trabalhem de casa um ou mais dias da semana, carrega um certo estigma. E algumas delas estavam relutantes em aceitar promoções que exigissem mudanças que prejudicassem suas famílias.
 
Black e outras profissionais dizem que o verdadeiro benefício de ter um marido em casa é evitar distrações domésticas e competir melhor com outros profissionais homens -muitos deles têm mulheres que se dedicam apenas à casa. Ser o arrimo de família também pode significar ser levado mais a sério no trabalho, elas dizem.
 
Drew Skinner cuida das atividades domésticas enquanto a mulher trabalha no mercado financeiro
 
EXCLUSÃO
 
Assim como acontece com as mulheres, alguns desses donos de casa confessam não saber como voltar ao mercado de trabalho depois de uma parada que eles achavam que seria temporária. E admitem não entender bem o trabalho de suas mulheres.
 
Outros se tornaram ávidos ajudantes, marcando massagens para as companheiras e dominando técnicas complicadas de cozinha. Eles muitas vezes se sentem excluídos de uma infraestrutura social que as mulheres construíram por gerações para fazer com que ser dona de casa seja divertido.
"Quer algo esquisito? Tente combinar com uma mãe para as crianças brincarem na piscina", diz um pai.
 
Quando Ed Fassler, marido de uma executiva, estava ajudando com a compra de papel de embrulho para a escola, as mães se uniram para fazer o pedido -e o excluíram. "Meu marido não gostaria que você estivesse na minha casa com a gente", disse a organizadora.
 


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