Artigo: "As conquistas e os desafios do pós-feminismo”
 
05Mar

Artigo: "As conquistas e os desafios do pós-feminismo”

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Claudio Herique

 

 

A escritora norte-americana Camille Paglia, afirma em sua entrevista à Revista Veja que o feminismo acabou sufocando os homens e que as mulheres acabaram lamentando-se das suas próprias conquistas, ao ver que esse “novo homem” não é exatamente aquele que elas desejavam.

 
Como um homem que se vê hoje “no outro lado do balcão”, apoiando a carreira profissional da minha esposa, separei algumas frases da entrevista dela que eu gostaria de comentar, a partir dessa que aparece na foto principal da matéria.
 
 
 
 
É verdade que as conquistas obtidas pelas mulheres a partir da onda feminista dos anos 60 cobram hoje o seu preço. A sociedade moderna espera que além de realizadas profissionalmente, elas sejam boas mães, eficientes no cuidado com a casa e de preferência e  ainda sejam atraentes para seus maridos. Não é pouca coisa. É normal que, com tanta cobrança, a maior parte das mulheres sinta-se frustrada. Mas será que o problema está na postura das mulheres?   
 
 
O feminismo acabou impondo uma imagem de que, para ser feliz, a mulher precisa ser rica e poderosa. Pelo menos, esse é o estereótipo que colou na cabeça das pessoas. Quando lancei meu livro “Macho do Século XXI”, achei muito interessante o comentário de uma jovem blogueira em relação a ele. Ela escreveu o seguinte: “Mas quem eu queria conhecer mesmo era a mulher dele. Logo imaginei a Miranda Presley, do filme O diabo veste Prada. Fiquei boba de ver que ela tem uma imagem tão comum quanto todas nós”, foi o comentário da moça.
 
 
O estereótipo é forte, mas acredito que a Camille Paglia exagerou na dose ao dizer que as mulheres não querem o “novo homem”. Naturalmente, as mulheres ainda gostam daquele homem que paga a conta do jantar. A figura do homem provedor ainda é muito presente na sociedade. Queiramos ou não, o ato de esperar que o homem saia pra caçar e traga comida para casa ainda está gravado no DNA das mulheres. Isso mudou, com muito boa vontade, há duas gerações apenas. Entretanto, creio que elas já não dão mais tanto valor para isso.
 
 
A maioria não almeja ser rica e poderosa. Elas são apenas mulheres “comuns”, como minha esposa. Continuam querendo casar, ter filhos, família. E uma carreira profissional. A grande mudança reside no fato de que hoje elas esperam que os homens compreendam uma nova realidade que elas conquistaram com sacrifício, que é a de exercer um papel mais igual em relação aos homens. E isso, muitos deles ainda não entendem. Até aceitam uma mulher que pague a metade da conta do jantar, mas preferem mulheres menos independentes. E também não querem dividir com elas a responsabilidade de tarefas supostamente “femininas”. Aí fica difícil mesmo.  
 
 
A escritora afirma também que as mulheres vivem um conflito de papéis sem solução. Reproduzo abaixo um dos trechos da entrevista:
 
Tantos anos de pós-feminismo e as mulheres parecem continuar a viver em conflito diante de seus diversos papéis. Há solução à vista? 
Não. É um dilema terrível quando as mulheres aspiram a ter filhos e carreira. E é um dilema que não afeta os homens. Não por uma questão de discriminação da sociedade, mas simplesmente porque a natureza escolheu deixar o enorme fardo da gravidez para as mulheres. Vemos nos tempos modernos uma evolução da antiga família ampliada, da grande família tribal, em que diferentes gerações viviam juntas, rumo ao modelo em que as pessoas vivem isoladas em famílias nucleares, seja mãe, pai e filho, seja mãe divorciada e filho ou mãe solteira e filho. Isso põe as mulheres sob enorme pressão para fazer coisas que antigamente eram feitas pelas parentes. (...) Hoje, quanto mais bem-sucedida a mulher, mais distante ela está desse modelo comunal. Ela vive louca atrás de babá, empregada, enfermeira. Consequentemente, sofre um nível de intensidade nervosa e de exaustão sem precedentes na história.
 
 
Discordo que não exista solução. Isso não significa que a partir de hoje todos os homens devem virar donos de casa. Mas acredito que um casal pode buscar o entendimento mútuo, buscando o equilíbrio nas tarefas de cada um, sem papéis predefinidos. A jornalista Mara Luquet já definiu bem essa situação: “Não é preciso casar para nada – você não precisa casar para ter filhos, ter uma vida sexual ativa e nem mesmo para envelhecer (para isso existem os planos de previdência e a profissão de cuidadores). Então, a única razão para alguém se dar o trabalho de encarar esse enorme desafio de ter uma vida em conjunto é de fato o desejo de ter um projeto em comum, com alguém que amamos”. Acho que é bem por aí mesmo.
 
 
Outra frase da entrevista talvez ficasse melhor na boca de um homem sentado num bar tomando cerveja com os amigos do que na boca de uma mulher. “Todas as mulheres querem ser a Carrie, de Sex and the City. Não acho nada estranho que tantos rapazes bonitos e inteligentes não queiram se casar ou sejam gays. O máximo que uma mulher jovem e bem colocada na carreira tem a oferecer é uma instigante conversa sobre trabalho ou um empolgante almoço de negócios. É um tédio conversar com elas”, afirmou a escritora.
 
 
Quase caí da cadeira quando li isso. Quanto preconceito, moça. Pensar que as mulheres abriram mão de seu papel feminino e ficaram menos interessantes porque passaram a ocupar posições de destaque na sociedade é tão pobre quanto achar que lugar de mulher é na cozinha. Acho que não foi para isso que as mulheres queimaram seus sutiãs em praça pública no final da década de 60. Mas esse tipo de pensamento revela, acima de tudo, que ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelas mulheres para serem tratadas com igualdade pela sociedade.
 
 
 
 
Para ler a íntegra da entrevista de Camille Paglia para a Revista Veja, clique no link: http://veja.abril.com.br/250209/entrevista.shtml


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